segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Para que servem as capas dos livros?

               

Peter Mendelsund, diretor de arte da editora Alfred A. Knopf Books, de Nova York, é responsável por algumas das mais icônicas capas de livros publicados nos Estados Unidos (mais de 600, de autores como Tolstoy, James Joyce, Franz Kafka e Simone de Beauvoir). Suas capas em geral são bastante enxutas, com pouca ou quase nenhuma interferência visual, como fotos e desenhos, e uma elegância dificilmente conquistada em meio ao excesso de informações dos dias de hoje. A intenção é a de que o projeto gráfico não influencie no processo de leitura e na imaginação do leitor. Seu mais recente livro, Cover, publicado pela powerHouse Books, é um exemplo disso, trazendo, além do título, apenas um livro de capa vermelha, sem nada impresso, sobre fundo branco. 




Esta semana, Mendelsund cedeu, ao blog da revista Slate, um fragmento de Cover, em que ele responde à pergunta “O que é a capa de um livro?". Dando significados para esse elemento visual não só para a apresentação do livro, mas também para a identificação do perfil do leitor, ele acaba por suscitar uma reflexão sobre a utilidade das capas e sobrecapas no mundo digitalizado de hoje. Abaixo, apresento algumas das definições que considerei mais interessantes. O artigo completo, em inglês, ilustrado com capas de sua autoria, pode ser lido aqui

O que é a capa de um livro?

Pele, proteção. A capa atribui uma face única ao livro e contribui para definir uma identidade para ele. Ela não apenas protege o livro contra o sol e a poeira, mas também, de maneira metafórica, funciona como um escudo do texto. 

Moldura.  A capa é uma espécie de preâmbulo, de prefácio visual do livro; a antecâmara ou porta de entrada para o texto; campo neutro entre o texto e o mundo.

Lembrete. Um projeto gráfico diferente, original, relacionado a um texto também especial, nos ajuda a identificar mais facilmente o livro. Quando o procuramos posteriormente na estante, será mais fácil encontrá-lo pela lembrança que temos de um detalhe ou da cor da capa.

Souvenir, talismã. O ato de ler se situa em um reino mental nebuloso. A capa é a lembrança que trazemos conosco na volta dessa viagem metafísica, como uma camiseta, um chaveiro, um bibelô. 

Cabine de informação. A capa nos diz o que o livro é: o título, o autor, o assunto, o gênero, dados importantes e outros nem tanto. Para aqueles que usam as orelhas como marcador de página, a capa também é um localizador geográfico.

Decoração. Os livros, com suas capas e sobrecapas coloridas, podem servir de elemento decorativo quando espalhados por toda a casa. Elas nos permitem viver lindamente em meio à nossa sabedoria acumulada (isso no caso de os termos lido).

Crachá. Os livros, assim como a roupa, o carro, telegrafam quem nós somos. Uma pessoa lendo Cinquenta tons de cinza no metrô nos leva a fazer suposições diferentes sobre ela que não se estenderão àquela que está lendo A fenomenologia do espírito. Nesse sentido, as capas são propagandas de nós mesmos.

Provocação. Uma capa é um provocador no sentido de que pode nos trazer uma informação ou uma imagem que, por menor que seja, pode ser o suficiente para nos atrair para a leitura do livro.

Troféu. “Olha o que eu acabei de ler!” 

Propaganda. Espera-se que as capas ajudem a vender livros. E elas fazem isso – convencem, chamam a atenção, contam piada, lisonjeiam, dão uma piscadinha, fazem a corte e tudo o que for possível para que o consumidor escolha um determinado texto.


Após essas definições, Mendelsund finaliza com a seguinte pergunta: “As capas dos livros são necessárias?” e responde ironicamente: “Não.”

O que você acha? As capas são importantes, contribuem para o significado dos livros, geram um valor sentimental?
No próximo post do Escrita à Deriva, minha resposta a essa pergunta e algumas das minhas capas favoritas. Não percam!



                   


PS: Todas as capas que ilustram este post são de Mendelsund e foram retiradas deste link, no qual você pode ver vários de seus trabalhos. Sugiro também uma visita ao blog do designer, denominado Jacket Mechanical.



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