sábado, 5 de abril de 2014

Amizade como no filme

Rainy Day Friends, Genevieve Pfeiffer


Com licença: hoje vou escrever sobre Sex and the City! Nada de sexo, nada de cidade, nada de vida de solteira ou de relacionamentos amorosos, muito menos os intermináveis conflitos entre vida de casada e de solteira, vida profissional ou familiar, ter ou não filhos. Para mim, o tema é um só: amizade. 
Sex and the City, o seriado que conquistou o público feminino no mundo todo e que, ao final, deixou milhares de seguidoras órfās, trata, na verdade, disso: de amizade. Carry, Miranda, Charlotte e Samantha, não importa o que aconteça em suas vidas, têm como prioridade a amizade entre elas, colocando esse fator acima de outros tão importantes quanto, como a família e o amor.
Seria essa amizade incondicional possível na vida real? Somos todas nós capazes de ser amigas de verdade? Colocamos nossas amigas em primeiro lugar mesmo diante de nossos próprios problemas e de nossas famílias? Podendo optar pelo outro, escolheríamos a amiga? E que fique claro: sem que isso nos oprima ou nos obrigue.
Amizade de verdade, como a do seriado, não pode ser colocada em segundo plano. Não precisa ser todo dia. Ninguém quer que a amiga deixe de ir à festa do dia das mães na escola do filho todo ano para ficar com a companheira de todas as horas. Mas, em algum momento, no momento necessário, a amizade tem de estar em primeiro lugar. 
Amizade de verdade não pode ser deixada pra depois: "Podemos nos encontrar depois da seção de massagem?" ou "Primeiro vou fazer as unhas, depois a gente se vê". Tudo isso pode ficar pra depois. Melhor: tudo isso pode ser feito na companhia da amiga!  "Vamos ali comigo comprar o presente de aniversário da minha cunhada?", com direito a uma passadinha no café da esquina, claro! Bem ao estilo Sex and the City, em que as quatro estão sempre juntas ou ao menos aos pares, em todos os lugares, na aula de ioga, na manicure, nas lojas de departamento. Nem há espaço pra se sentir solitária.
Aliás, por que tanta formalidade? Por que um encontro entre amigas tem de ser marcado na agenda? Tem que ter hora, minutos, segundos agendados com um ano de antecedência? Para a amiga, amiga de verdade mesmo, podemos ligar a qualquer hora apenas porque não estamos com vontade de ficar sozinhas. No seriado, elas se falam o tempo todo, sem ao menos haver motivo para isso ou simplesmente para comentar uma bobagem que passou pela cabeça.
Isso tem de valer para os maus momentos também. Quando Carry é abandonada no altar pelo seu grande amor, Big, as amigas decidem viajar juntas, na tentativa de reanimá-la, mas Carry passa dias trancada no quarto escuro do hotel, sem forças para recomeçar. Nesses dias, as outras três também ficam um pouco mais reclusas e até dão comida em sua boca, já que ela se recusa a se alimentar. 
Tem de ter companheirismo, mesmo que haja mil obstáculos. Por uma amiga, tudo vale. Em um dos episódios, Carry e Miranda decidem passar a noite de Natal sozinhas em seus respectivos apartamentos, mas, no último momento, sentem-se sós, algo não está bem. Carry, a despeito da noite fria do inverno de Nova York, de as ruas da cidade estarem repletas de neve, da dificuldade de conseguir um taxi, decide ir ao encontro de Miranda. E lá vai ela correndo pelas ruas, escalando a neve acumulada, até encontrar a amiga a esperando de braços abertos para, juntas, passarem aquela noite tão especial. 
Deveria ser obrigatória uma viagem só entre amigas pelo menos uma vez por ano, nem que fosse durante um fim de semana, a uma hora apenas de distância. Sem filhos, sem marido, sem amigos paralelos, só as mais próximas e que se enquadrem nas descrições acima. No filme Sex and the City 2, as quatro partem para uma viagem inesquecível. Não foi fácil para algumas delas deixarem filhos e marido para trás, mas, após os dois primeiros dias, até as mais amarradas ao núcleo familiar reconhecem precisar daquelas férias, daquele momento em que poderiam voltar a ser elas mesmas. Apenas amigas de verdade permitem que sejamos nós próprias, mesmo com as nossas piores manias. 
Na hora de defender a amiga, não vale ficar em cima do muro. Tem de se posicionar, gritar se for preciso. Nada de ser politicamente correto nessas horas. Erraram com amiga sua, tem que se colocar na frente e partir pra briga. Quem errou sabe que errou, a raiva passa com o tempo. Mas a que foi vítima da sacanagem da outra, essa jamais vai se esquecer de que não foi defendida com unhas e dentes.
Outra coisa: nada de assuntos proibidos. Amigas de verdade não podem ter tabus entre si. Devem poder conversar sobre qualquer tema, por mais estranho ou obsceno que possa parecer. Não seria com a mãe ou com o marido que falaríamos. No seriado, elas evitam falar sobre o recém-diagnosticado câncer de Samantha no dia do casamento de Miranda, mas esta percebe algo de errado no comportamento das outras e faz questão de saber em detalhes o que está acontecendo. Mesmo sendo o dia do seu casamento!
Se se pode falar tudo, é claro que haverá umas brigas de vez em quando. Acontece às vezes de se falar demais ou de a verdade doer. Amigas que não discutem nunca, pode desconfiar. Tem sempre alguma mágoa enrustida que um dia vai explodir ou, pior, vai enfraquecer a relação. 
Amigas verdadeiras têm superpoderes. Apenas um olhar é o suficiente para dizer que está na hora de ir embora da festa ou que aquele cara não serve. Há aqueles momentos em que não temos forças para falar o que estamos sentindo, mas a amiga sabe que, muito mais do que de palavras, precisamos de sua presença. 
O seriado mais amado pelas mulheres em todo o mundo é muito criticado por mostrar uma realidade muito idealizada, distante do real em vários aspectos. Essa crítica caberia também à amizade nele representada? Haveria amizade assim tão perfeita? Provavelmente não, mas quem sabe não possamos extrair dela algumas lições.
Uma verdade, e dessa não tenho dúvida, é que, morando longe, me sinto órfã das minhas amigas. E, para as órfãs de Sex and the City, já se fala por aqui em um terceiro filme...

7 comentários:

  1. Quando fui para NY em 2012 com as minhas amigas fizemos questão de ir na casa da Carry e na Magnolia Bakery kkkk todas apaixonadas pelo estilo de vida do seriado.. kkk
    Adorei o texto!!

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    1. Vanessa, acredita que ainda não fui visitar a casa da Carry?! Mas está na minha lista!

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  2. Somos duas. Mesmo estando aqui do ladinho de algumas eu não consigo vê-las o quanto eu queria... :(

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    1. Monik, é isso mesmo! Mesmo quando eu morava em Brasília era super difícil encontrar as amigas. Temos de priorizar mais!!!

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  3. Este poema de Vinícius de Moraes me foi dado de presente pela minha amiga Mônica, em retribuição ao texto deste post. Obrigada, amiga querida!! Sua amizade vale muito pra mim!! Depois de anos sem nos vermos, foi como se o tempo não tivesse passado.
    "Enfim, depois de tanto erro passado
    Tantas retaliações, tanto perigo
    Eis que ressurge noutro o velho amigo
    Nunca perdido, sempre reencontrado.

    É bom sentá-lo novamente ao lado
    Com olhos que contêm o olhar antigo
    Sempre comigo um pouco atribulado
    E como sempre singular comigo.

    Um bicho igual a mim, simples e humano
    Sabendo se mover e comover
    E a disfarçar com o meu próprio engano.

    O amigo: um ser que a vida não explica
    Que só se vai ao ver outro nascer
    E o espelho de minha alma multiplica..."

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