Four seasons, Luiza Vizoli |
Essa energia primaveril que desperta no hemisfério sul nessa época do ano, em oposição à chegada do outono em terras do norte, onde me encontro, causa-me um inexplicável desconforto, uma certa sensação de deslocamento, uma dessintonia.
Verde, rosa e amarelo vibrantes. O azul do céu, sobre extensos gramados, águas transparentes e cristalinas - cenário perfeito para o desabrochar das pétalas, o inchar dos frutos, a brincadeira barulhenta dos passarinhos. O raio de sol toca a água do rio, criando um reflexo, um brilho que inebria e cega. Pele à mostra sentindo o acarinhar da brisa fresca e nova. Margaridas, tulipas, begônias. Peras, caquis, polpas suculentas. Desejo de ar livre, sol no rosto, borboletas.
Tudo isso é muito animador e, por meio das redes sociais, povoa meus pensamentos. Mas o que se vive por aqui nos Estados Unidos neste momento é a chegada de uma estação muito diferente. Novas cores estão por vir - alaranjado, vermelho vinho, marrom, dourado. A cor sépia da fotografia envelhecida pelo passar do tempo. O céu muitas vezes cinza, o ar frio, exigindo já uma camada de lã sobre a pele. Galhos retorcidos, terra ressecada, folhas bailarinas em seu salto suave em direção ao nada. O aroma a abóboras, maçãs e especiarias se espalha por toda parte. Vontade de tomar leite com açúcar queimado, substituído, por pura conveniência, pelo leite insosso do Starbucks. Um desejo de recolhimento toma conta de todos, vontade de estar dentro, no aconchego do lar ou de um café, na companhia de um bom livro.
A Primavera é uma menina ágil correndo pelos campos, molhando os pés no riacho, colhendo flores, cheia de atividade e muita vida pela frente. Suas pernas têm ânsia de movimento. Avançam sempre, sem parar.
Já o outono é um idoso sentado no banco da praça, protegendo-se com seu cachecol, repousando os pés cansados de aventuras passadas, o olhar perdido e cheio de nostalgia, à espera do tempo, o seu tempo.
A primavera é o encontro.
O outono é a despedida.
A primavera é o broto.
O outono, o maduro.
A primavera é o som do piano de Ludovico Einaudi.
Dois cenários que se misturam, desarmônicos, em minha mente…
Complementares na minha, a felicidades das colheitas, frutos e flores, as mesmas almas que caem e renascem em brotos, equilíbrio entre a espera do inverno e a intensidade do verão.
ResponderExcluirMas, teve um tempo que eu sentia estar sempre na estação errada. Depois de estudar os florais de Bach, de alguma forma entendi a adaptação que me faltava.
Com certeza, Karol! A natureza é perfeita e harmoniosa! Acho que a dessintonia está(va) em mim…
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