quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Terá sido o 9/11 obra de ficção?

As Torres Gêmeas, Banksy

Apresento dois livros cujos temas principais não são o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, que hoje completa 13 anos, mas que abordam essa temática de maneira tão especial que acabam por figurar nas listas dos livros sobre o assunto: Forever, de Pete Hamill, e Homem no escuro, de Paul Auster. 
Já escrevi sobre Forever aqui, mas esse é daqueles livros que jamais se esgotam em um único comentário. Para quem não se lembra, o romance conta a história do irlandês Cormac, que se muda para Manhattan no século XVIII e não consegue mais sair, sendo obrigado a viver na cidade para sempre. O dom da imortalidade, a ele possibilitado por estratégias fantásticas da narrativa, faz com que o personagem viva na cidade do século XVIII à contemporaneidade, assistindo a importantes períodos da História norte-americana, muitas vezes neles tendo participação ativa. Um detalhe que não comentei no post citado é que o ataque às Torres Gêmeas é decisivo em sua escrita. O próprio autor conta, em uma entrevista publicada no final do livro, que terminou de o escrever justamente no dia 10 de setembro de 2001. Entregou os originais ao editor e, no dia seguinte, estava planejando jantar em um restaurante tradicional da cidade para comemorar o término de tal empreitada quando tudo aconteceu. Ele, que havia narrado acontecimentos decisivos na história da cidade, não tinha outra alternativa a não ser adiar a publicação do livro e trabalhar nele por mais um ano para que pudesse inserir aquele que era um dos  acontecimentos mais marcantes da história. 
O personagem, que, a essa altura da narrativa, morava nas proximidades do World Trade Center e tinha uma pessoa próxima a ele trabalhando lá, desespera-se ao assistir, do seu apartamento, ao choque do primeiro avião contra o prédio e se dirige para o local, na tentativa de obter alguma informação. A partir daí, ele descreve o cenário de uma maneira bastante realista e coloca diante dos nossos olhos o quadro que se pintou: o medo, o barulho, o tumulto, a fumaça, a poeira, a procura, a dúvida, a incompreensão, o vazio, o caos. Duas imagens me impressionaram: a fumaça que se espalhou pela cidade e cujo cheiro se sentia dias depois e a massa humana atravessando a pé a Ponte do Brooklyn na voltar para casa, tendo em vista que não havia transporte público. A procura pelos desaparecidos também é chocante; o próprio Cormac reencontra a namorada dias depois, internada em um hospital, sem identidade. 
Enquanto Hamill mergulha de cabeça nesse fato nos últimos capítulos de seu livro, Paul Auster, em Man in the dark (publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2008, com o título de Homem no escuro), faz absolutamente o contrário: a mente insone de um senhor de idade cria uma história que se passa em um cenário em que a Guerra no Iraque não aconteceu, muito menos o ataque de 11 de Setembro. As Torres Gêmeas estão intactas, marcando presença absoluta e soberana no horizonte da cidade. No entanto, por outro lado, os Estados Unidos vivem uma guerra civil como nunca antes, consequência da eleição de George W. Bush, colocando em risco o sistema federativo da nação. O inimigo, nesse caso, não vem de fora; é o próprio país e as escolhas políticas de seu povo, levando-nos a refletir sobre os problemas da nação norte-americana sob um outro ponto de vista. 
Duas maneiras igualmente brilhantes de tratar um acontecimento de tamanha gravidade: explorando-o intensamente, para viver o luto e aliviar a dor; ou negando-o totalmente, para imaginar a sua não existência e, assim, avaliar a grandiosidade do ocorrido. Duas excelentes leituras!

PS: Para mais sugestões de livros e filmes sobre o 9/11, vá aqui e aqui. Em inglês e mais atual: aqui. Boas leituras!! 

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