terça-feira, 4 de março de 2014

Spiegelman: arte, a começar pelo nome

Auto-retrato nu, 1999


Recentemente, em visita ao Jewish Museum de Nova York para ver uma exposição de quadros do modernista Marc Chagall, (1887-1985), sobre a qual você pode ler aqui, me deparei com a retrospectiva da obra de um artista para mim até então desconhecido: Art Spiegelman (Art Spiegelman's Co-mix: a retrospective).
Não sei se seu trabalho é conhecido do público brasileiro em geral, mas ele tem uma presença bastante expressiva na arte contemporânea americana. Membro do movimento underground, o artista gráfico, desenhista, cartunista, designer, criador de histórias em quadrinhos e até infantis, Spiegelman criou sua própria tradição artística, caracterizada pela consciência histórica, pela inovação formal e pela autoconsciência pessoal. A tensão entre a arte de vanguarda e a cultura de massa inspirou seu trabalho como editor de duas revistas de grande influência (Arcade e Raw), como criador das capas da revista New Yorker e colaborador em importantes jornais. Nas capas abaixo, percebem-se algumas das temáticas recorrentes em sua obra: modernidade, tecnologia, política, (des)armamento, miscigenação:


                             



Seu trabalho mais famoso, Maus, foi traduzido para 26 idiomas e foi vencedor do Prêmio Pulitzer. O personagem que dá nome à série de histórias em quadrinhos, publicada no decorrer da década de 1980, foi inspirado na experiência de sua família durante o Nazismo. A narrativa mescla fatos relacionados ao Holocausto e a dinâmica da cultura popular. São utilizados estereótipos e alegorias, sendo os judeus representados por ratos, os polacos por porcos e os alemāes por gatos. Perguntado por um jornalista alemão se uma história em quadrinhos sobre Auschwitz não seria de mau gosto, ele respondeu: "Não, eu acho que Auschwitz foi de mau gosto".
      



O que mais cativou minha atenção para o trabalho desse artista foi sua arte inspirada no ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, que ele vivenciou muito de perto. Spiegelman explora de maneira extremamente expressiva esse momento histórico, criando uma série de broadsheets, panfletos em larga escala, com suas  próprias recordações do fato e críticas à política adotada após o ataque. A capa da New Yorker em referência ao ocorrido tornou-se histórica. Nela, ao invés do habitual colorido e do excesso de traços, o que vemos é esta sobreposição clean de cores escuras, expressando o vazio e o sentimento de luto de toda a nação naquele momento: 





Todo o trabalho sobre o 9/11 resultou na coletânea In the Shadow of no towers (Na sombra de nenhuma torre: Alguém sugere uma outra tradução?), da qual destaco  o trabalho abaixo. Nele, vê-se a destruição, a morte e o terror representados por meio de figuras simbólicas, com uma riqueza de detalhes e uma tragicidade fascinantes. 






Espero que este post tenha trazido alguma curiosidade em relação a esse artista. Sua obra representa muito mais do que sua pátria e temáticas a ela relacionadas; sendo os temas universais, podem interessar a quem se importa com o homem e sua condição pós-moderna.






PS: Todas as imagens foram retiradas daqui.



3 comentários:

  1. Amélia, Art Spiegelman é único em sua vivência traduzida em arte!
    O antropomorfismo irreverente e irônico foi devido a sua mãe - sobrevivente dos campos de concentração - Auschwitz- e surgiu inspirado em uma série de propagandas do nazismo que tratavam os judeus como ratos e os poloneses como porcos.
    Sui generis e cheio de reticências em suas obras que só podem ser compreendidas em seu contexto.
    Gosto disso: arte com conteúdo, imbuída de história e personificação.
    Beijos,
    Patrícia Kaiser

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    1. Patrícia, antes de ver a retrospectiva, confesso que não tinha a menor ideia do que se tratava, nunca tinha ouvido falar, mas me surpreendi, passei a pesquisar sobre ele e a me interessar pelo gênero.
      Você teria alguma sugestão de outros artistas que vêm à sua mente a partir de Spiegelman?
      Beijos

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  2. Depois que escrevi este post, Siegelman e sua esposa, Françoise Mouly, anunciaram o lançamento de uma antologia de histórias em quadrinhos para crianças: "The TOON treasury of children's classics comics". Imperdível!

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